sexta-feira, 31 de julho de 2009

Profundo silêncio

Acredito que podemos ficar quietos e nos integrarmos a um estado de contemplação capaz de nos conduzir à condição de paz e harmonia, coisa que não encontramos no corre-corre dos dias, quando a importância possessiva que nos domina e controla é aquela tal necessidade de transformar trabalho em competência, que se transformará em salário, que será a maneira evidente que temos para sermos aceitos nesse formato de existência que é a vida em sociedade.
É uma visão tipicamente ocidental, talvez bastante diferente daquela que o oriental, por exemplo, teria. De repente a necessidade de estar dentro do circulo social implica em oriental e ocidental coincidirem nas mesmas atitudes, porém é um fato notório que ambos, a seu modo, divergem em muitas maneiras de se conduzirem diante da vida.
Nós, e eu me refiro a todos nós que temos a clara tendência de ignorar o claustro e a tranquilidade de um local ermo e quieto, nós precisamos de silêncio. Esse zumbido intermitente dentro de nossos ouvidos é o eco real do progresso e é o preço a pagar por termos que renunciar a tantas coisas que a modernidade nos impinge.
O silêncio é assim tal qual o ar, de que não prescindimos. Mas temos tido as incontáveis oportunidades de abdicar dele a pretexto de falta de tempo, muitas preocupações, reuniões, trânsito, correrias de última hora, e a relação de justificativas se estende a perder de vista.
Infelizmente nós não adotamos o silêncio, e ao nos esquivar dele deixamos de encarar a essência da criação no seu estado mais puro e consistente. O silêncio é um modo claro de oração, que, aliás, vinculamos a credos, tradições religiosas, crendices, superstições, e caimos na armadilha mortal de evitar o silêncio (logo, a oração), por considerar algo menor, próprio de fracos, tolices comezinhas que não levam a lugar nenhum.
O grande tolo é aquele que pouco enxerga da sua própria fragilidade, embora acredite que seja forte e capaz. E quando afrontado duramente, e se lhe mostram quão fraco e incapaz é, ele busca uma explicação e, aí sim, com absoluta convicção, se esquiva da responsabilidade jogando a culpa neste ou naquele. Ele próprio nunca será a sua própria perdição.
E assim vamos, claudicantes, a correr atrás do próprio rabo, quase surdos e em meio ao turbilhão de milhares de watts, agindo como bonecos que articulam a boca, mas que não emitem som; que fingem que falam, mas que apenas gesticulam, como nos velhos filmes do cinema mudo.

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