quarta-feira, 15 de julho de 2009

O Exemplo Não Vem De Cima

É tão cansativa a repetição das notícias que vêm do Planalto sobre desmandos e abusos, que a continuidade do procedimento por parte desses senhores, que nada têm de ilustre, é uma ofensa à nossa inteligência e um ato de sem-vergonhice sem tamanho.
Esse mal, que é com certeza contagiante, começou com os escândalos que a Câmara dos Deputados aspergiu para cima, onde nomes e situações foram citados textualmente, mas que as incontáveis CPIs parecem não ter produzido efeito reparador algum.
Diante da leniência da Justiça, do excesso de burocracia e recursos, os causadores de danos ao Erário Público conseguem safar-se e, pior ainda, continuar a molestar com sua fealdade e malignidade o panorama da política nacional, porque como qualquer doença que cause danos – e muitas vezes irreparáveis – deixam seqüelas que se refletem no país e, em particular, no bolso do cidadão que, via de regra, paga a conta dentro daqueles 147 dias que serve, como Jacó, como servidor escravizado, ao Labão da história atual, que no caso é o governo federal.
Agora é o senhor Sarney a mostrar-se indignado diante das acusações que, contudo, não refuta. Interessante que o presidente do Senado, que por cargo e responsabilidade teria que ser pessoa proba e digna, que exerceria a honestidade como uma virtude intrínseca – e não por força de obrigatoriedade – continua a rechaçar essas “veleidades” e diz que não fez nada de errado.
Interessante como a linguagem adquire elementos de neologismo, ou até como recurso de semântica, onde o errado é o certo e o certo é que é o errado.
Assinar decretos em surdina, dar cargos remunerados a pessoas, num evidente “acerto de contas por favores recebidos” a amigos e correligionários, criar mecanismos, suspeitamente legais, para se favorecer em proveito próprio e/ou de sectários que se proclamam colaboradores é ato correto? Ora, Paulo já dizia que tudo é permitido, mas nem tudo é lícito.
O que falta aos nossos políticos, e ao povo que elege, que vota com consciência, que o exemplo não tem vindo de cima. Os nobres políticos têm feito, no mais das vezes, é alijar o povo dos seus interesses fundamentais em detrimento dos seus interesses de curral, de cabresto curto, mantendo o redil apto a pô-lo no poder, a qualquer preço e a qualquer custo.
Se o exemplo não vem do alto, de cima, nem esperemos que haja intervenção divina nessa vergonhosa situação a que estamos expostos há algum tempo, quando tudo começou a vir à luz quando o ressentimento de um fez surgir o famigerado Escândalo do Mensalão, que se espalhou pelo país como um rastilho de fogo no capim seco e esturricado da miséria a que boa parte da população brasileira encontra-se até hoje.
Está na hora de se repensar o que é ser pessoa pública e qual o papel desses senhores que se revestem de leis próprios e se blindam atrás de imunidades parlamentares, foros privilegiados e utilizam recursos de loteria para manterem-se na mais completa e absoluta impunidade quando encontrados em flagrante delito.
Se a Constituição estabelece direitos e obrigações ao cidadão brasileiro, sem lhe ver o rosto, cor, credo, por que não incluir nela, e apenas nela, o cidadão que se pretende ser melhor, especial e diferente?
Em que são diferentes esses senhores? Será o seu sangue de outra cor? Terão privilégios divinos, como exigiam os reis absolutistas? Por que eles podem fazer e desfazer a seu bel-prazer, acobertados por benefícios jurídicos esdrúxulos, e o cidadão comum, que não é comum mas apenas cidadão, que trabalha, pega ônibus, trem, enfrenta transito, não tem chapa especial, não tem verbas indenizatórias, não tem leis que privilegiem seus desatinos e irresponsabilidades fiscais, não pode nada?
Será que os segmentos sociais do país estão condescendendo tanto, com tamanha paciência e tolerância, que esperam que as soluções venham de cima, do mesmo lugar de onde os males são gerados?
Nas Escrituras Sagradas há um trecho expressivo, onde Jesus é categórico e não deixa dúvidas quanto à assertiva que faz, quando diz que de fonte que jorra águas doces não podem jorrar águas amargas.
É bom nos lembrarmos, sempre, e todo o tempo, que o exemplo não vem de cima. Mas em cima há solução se formos fortes e suficientemente dignos para exigir que as coisas voltem à sua normalidade, aos seus verdadeiros trilhos.
Por ora a composição parece estar em denotado descarrilamento.

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