quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Ah, e nada muda...

Ouço a notícia e fico pensando a respeito. Menor de catorze anos, preso dezesseis vezes, tripudia autoridade policial e é protegido pelo Estatuto doo Menor e do Adolescente.

Eu disse "protegido". O menor é reincidente, começou sua "carreira criminosa" aos onze anos, e continua, digamos, a exercitar o seu talento transgressor sob as barbas da Lei. A Lei que diz que, por ser menor, não pode ser tocado. Uma espécie de dalit nativo, a espécie mais abjeta e nojenta que se pode conceber uma sociedade que se proclama civilizada e justa. Há a lei, sim. A lei que diz que ele é merecedor de tratamento especial. Mas o que diz essa lei com respeito às pessoas que sofrem constrangimento e perdas pelas mãos desse "protegido"?

O legislador é hipócrita. Reveste-se da majestade dos justos, daqueles que podem fazer justiça. Mas não passa de um borra-botas, que mente e finge uma moralidade que não tem. O dalit tropical é uma legião, que muda de cara e de nome. Floresce ao pé das desigualdades e da miséria, das oportunidades que não vêm sob os olhos complacentes das autoridades que, ambiciosas de uma próxima eleição auspiciosa, esfregam as mãos e fazem de conta que não estão vendo nada. Não, tudo vai bem! Tudo está em ordem! Mas que maravilha!

O Estatuto vai ser modificado? O Judiciário vai fazer alguma coisa para mudar essa situação? O homem público - aquele mesmo que ganha quase três digitos vezes mil por mês para "ser nosso representante" - vai se coçar para tomar alguma atitude que modifique essa excrescência, essa mácula, essa bizarrice social? Quando, pois, vão dar ao cidadão que trabalha, que paga imposto, que vota, que tenta ser digno e decente... quando é que esse cidadão imbecilizado pelas atrocidades e perplexo pelos olhos de mercador dos políticos vai ter a sua situação de bom cidadão respeitada?

Talvez no dia em que não haja mais cidadãos decentes em sociedade. Talvez quando tudo vire uma espécie de filme de ficção, de clima noir, daquelas cidades sombrias dominadas pelo mal e pelo crime... talvez quando não houver mais condescendência, e tudo seja feito pelo 'olho por olho, dente por dente', então ai eles, os tais homens públicos, se cocem mesmo. Até lá as máscaras já terão caido. E veremos, finalmente, os verdadeiros rostos que elas escondiam.

Estaremos preparados para enfrentar essa visão dantesca e medonha?

Enquanto isso eles continuam a discutir de quanto será o salário-mínimo, ou o quanto os aposentados mal pagos terão direito a receber, porque o deles já está garantido por lei, aposentadorias vutalícias e milionárias. Ah, sim... sim.... porque há isonomia.... está lá, na Constituição. Mas de fato, nada disso é verdadeiramente feito. Está apenas no papel.


terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Depois, o silêncio

Esse será meu último texto neste blog. Depois disso, o silêncio. Deixarei de escrevê-lo. Por algum tempo foi algo bom. Mas hoje, necessariamente, não é nada interessante. Por que digo isso? Porque minha concepção de olhar a vida mudou. Já não me vejo tentando decifrar as ondulações das filosofias, o modo de pensar dos homens, entender as estruturas políticas, perguntar por quê tanta injustiça, por que isto, por que aquilo, porque não tenho respostas.

A felicidade está em nós. Mas o mundo é infeliz porque vive atrás do próprio rabo. Nada satisfaz. Nada agrada. Depois de algum tempo, o enfado. A busca por outras sensações recomeça. Uma sede que nunca tem fim. E isso tudo para quê?

Meus últimos momentos são de abandono. Deixar tudo para trás. Não olhar para trás sob risco de virar uma estátua de sal, como a mulher de Ló.

O universo interior precisa ser entendido, o espírito precisa ser alimentado, mas não por tanta porcaria que o homem cria para depois esquecer em algum fundo de gaveta.

Não quero mais ser o escritor que acha que era. Não quero ser o filósofo que achava que poderia ser. Não me interessa saber porque os livros de Paulo Coelho fazem sucesso, nem porque Sidney Sheldon era tão bem sucedido, ou porque há prazer nos homens em ficar vendo pornografia em vídeo ou em livros.

Ai do lado de fora tanta coisa acontecendo, tanta gente se esvaindo, e nós nos tornando cada vez mais capengas e obsessivos.

A paz que buscava eu encontrei, ainda que com adversidades.

Nem riquezas, nem o topo do pódio, nem as luzes dos holofotes, nem a bajulação dos admiradores de ocasião.

Não quero mais perder meu tempo falando de coisas que não me atingem, e que discuto como se fossem itens de um supermercado.

Uma só boca, duas orelhas... o recado foi dado na concepção.

Adeus a todos. Sem mágoas. Sem ressentimentos. Nem saudades.