Era uma vez um homem. Um homem num tempo onde homens eram homens, não máquinas. Naquele tempo eles sofriam as fraquezas peculiares das espécies que têm fatores influenciáveis a atingi-los. E quando eram atingidos, podiam sublimar e deixar a vida correr, ou viravam-se para o espelho da verdade e concebiam jeitos e maneiras de vingarem o ultraje sofrido.
Naqueles tempos os homens procriavam. No começo eram numerosos. As proles atingiam quantidades absurdamente grandes. O tempo, porém, começou a imprimir-lhes certas lições. E com o tempo vieram os ' novos homens' que idealizaram formas e maneiras para coibir essa fraqueza. Afinal, o mundo não era o melhor lugar para se morar. E não tinha sentido parir tantos filhos para depois lançá-los nas garras do mundo voraz.
Era o tempo que precedia o advento do mal. O mal, como conceito e como atitude. O mal diferente dos teólogos e dos crentes. Era o mal velado, subestimando as inteligências. O mal travestido de prazer e alegria fútil. O mal transformado em 'abaixo a censura, vamos desfrutar a vida!', e ninguém conseguia tolerar que tanto prazer e deslumbramento viessem a produzir o que se produziu. O que se produziu, bem, o tempo disse depois.
Por agora, fiquemos apenas nas amenidades tolas dessas criaturas cheias de orgulho e arrogância. Os olhos, que os poetas diziam ser as janelas da alma, foram vazados. A cegueira moral pairou como um manto invisível sobre todos. Ainda que não percebessem sentia-se que algo acontecera; era tão sufocante, tão asfixiante, tão denso que não era possível evitar sua presença. Mas, como sempre acontece, as decadências sucedem ao apogeu e o que as pessoas não percebem é exatamente que uma termina quando a outra começa.
Homens antigos, mentalidades enterradas em ideias absurdamente liberais, onde filhos e pais eram detratores simultâneos, onde respeito e obediência deram lugar ao conceito mágico de que 'eu não dependo de você, nem nunca vou depender'. Os teóricos e estudiosos, enfiados em suas estatísticas e na falaciosa ideia de que a tecnologia tudo poderia resolver, até os problemas mais complexos, não atentaram ao detalhe de que não só o tratamento ia de mal a pior como o habitat natural cedia vez a um galopante mundo árido e estéril. A esterilidade começava de dentro para fora. A natureza tentava e respondia; a natureza humana, essa, infelizmente, estava ou fora engolida por suas próprias doenças e vícios.
O mundo cedera vez às teorias (cada vez maiores e mais intensas) das conspirações. O sonhado mundo com ordem comum, onde todos falassem e todos fizessem era o mesmo mundo que o Big Brother de Orwel existira. Nem mesmo Huxley poderia entender que o seu 'soma' era, na verdade, o crack, a cocaína, o ectasy que se vendiam nas esquinas, nas portas das escolas, e nos vestíbulos das ante-salas. O cheiro era intenso, mas não percebiam. Mas o mundo apodrecera em vida. Como Dorian Gray aprisionado num quadro macabramente vivo, a sofrer toda a corrupção moral do seu modelo vivo.
Já não se pensava mais em filhos. O prazer conjugal também era um falácia. Casamento, uma palavra morta nos dicionários cada vez mais obsoletos. A terminologia chã era o menos audível e o mais gutural possivel. Então, o homem retrocedia na escala evolutiva e voltava à condição de besta-fera, com o falo duro apontando para a frente feito um aríete, em busca da presa, do novo prato, da vítima incapaz de saciar a sua insaciável fome. Enfim, o homem sublime, o tipo criado à imagem do Criador, deixava-se vencer pelas suas vilanias e aceitava, com declarada conformação, a ficar nos primeiros degraus da escala evolutiva. Muita cerveja, muito fumo, muito sexo, muita ociosidade, e ele morreria copulando ou apenas afogado em overdoses.
Os congressos ficaram entregues à erosão dos edifícios abandonados. Por que legislar e criar leis ou resepeitar regras num mundo onde ninguém se importava com coisa alguma? Então, o que antes fora motivo de orgulho e satisfação passava à condição de verdadeiros mausoléus sujos, decadentes, devorados por uma vegetação cada vez mais abundante e em contínuo crescimento. A natureza adquirira o gosto pela continuidade de movimentos, enquanto a espécie humana, aquela que falava, ria e fazia sátiras de suas próprias mazelas, esquecera a sua vida cultural, ignorara as tecnologias, passara de ser culto a de analfabetos confessos, e os livros, se não serviam para acender as inumeráveis fogueiras espalhadas pelos cantos da Terra, serviam de recurso para que se limpassem após defecar. Na verdade a educação e a cultura tinham cedido vez à mão boba e a merda.
Era o início do Kaos. Do mundo escuro e entrevado. O homem voltava a ser das cavernas porque embotara o espírito de fora para dentro. E nesse recuar instintivo e defensivo ele não percebeu que criara uma reação canibalística. E começou, como o câncer, a devorar o que tinha de melhor. E a cada refeição deixava um rastro de coisas mortas e inúteis.
Ele não percebera que, ao idealizar o seu retroagir, criara a fórmula automática da sua própria destruição como ser vivo.
..... Essa narrativa terá continuidade. Que os meus dedos estejam no lugar quando isso acontecer.
Naqueles tempos os homens procriavam. No começo eram numerosos. As proles atingiam quantidades absurdamente grandes. O tempo, porém, começou a imprimir-lhes certas lições. E com o tempo vieram os ' novos homens' que idealizaram formas e maneiras para coibir essa fraqueza. Afinal, o mundo não era o melhor lugar para se morar. E não tinha sentido parir tantos filhos para depois lançá-los nas garras do mundo voraz.
Era o tempo que precedia o advento do mal. O mal, como conceito e como atitude. O mal diferente dos teólogos e dos crentes. Era o mal velado, subestimando as inteligências. O mal travestido de prazer e alegria fútil. O mal transformado em 'abaixo a censura, vamos desfrutar a vida!', e ninguém conseguia tolerar que tanto prazer e deslumbramento viessem a produzir o que se produziu. O que se produziu, bem, o tempo disse depois.
Por agora, fiquemos apenas nas amenidades tolas dessas criaturas cheias de orgulho e arrogância. Os olhos, que os poetas diziam ser as janelas da alma, foram vazados. A cegueira moral pairou como um manto invisível sobre todos. Ainda que não percebessem sentia-se que algo acontecera; era tão sufocante, tão asfixiante, tão denso que não era possível evitar sua presença. Mas, como sempre acontece, as decadências sucedem ao apogeu e o que as pessoas não percebem é exatamente que uma termina quando a outra começa.
Homens antigos, mentalidades enterradas em ideias absurdamente liberais, onde filhos e pais eram detratores simultâneos, onde respeito e obediência deram lugar ao conceito mágico de que 'eu não dependo de você, nem nunca vou depender'. Os teóricos e estudiosos, enfiados em suas estatísticas e na falaciosa ideia de que a tecnologia tudo poderia resolver, até os problemas mais complexos, não atentaram ao detalhe de que não só o tratamento ia de mal a pior como o habitat natural cedia vez a um galopante mundo árido e estéril. A esterilidade começava de dentro para fora. A natureza tentava e respondia; a natureza humana, essa, infelizmente, estava ou fora engolida por suas próprias doenças e vícios.
O mundo cedera vez às teorias (cada vez maiores e mais intensas) das conspirações. O sonhado mundo com ordem comum, onde todos falassem e todos fizessem era o mesmo mundo que o Big Brother de Orwel existira. Nem mesmo Huxley poderia entender que o seu 'soma' era, na verdade, o crack, a cocaína, o ectasy que se vendiam nas esquinas, nas portas das escolas, e nos vestíbulos das ante-salas. O cheiro era intenso, mas não percebiam. Mas o mundo apodrecera em vida. Como Dorian Gray aprisionado num quadro macabramente vivo, a sofrer toda a corrupção moral do seu modelo vivo.
Já não se pensava mais em filhos. O prazer conjugal também era um falácia. Casamento, uma palavra morta nos dicionários cada vez mais obsoletos. A terminologia chã era o menos audível e o mais gutural possivel. Então, o homem retrocedia na escala evolutiva e voltava à condição de besta-fera, com o falo duro apontando para a frente feito um aríete, em busca da presa, do novo prato, da vítima incapaz de saciar a sua insaciável fome. Enfim, o homem sublime, o tipo criado à imagem do Criador, deixava-se vencer pelas suas vilanias e aceitava, com declarada conformação, a ficar nos primeiros degraus da escala evolutiva. Muita cerveja, muito fumo, muito sexo, muita ociosidade, e ele morreria copulando ou apenas afogado em overdoses.
Os congressos ficaram entregues à erosão dos edifícios abandonados. Por que legislar e criar leis ou resepeitar regras num mundo onde ninguém se importava com coisa alguma? Então, o que antes fora motivo de orgulho e satisfação passava à condição de verdadeiros mausoléus sujos, decadentes, devorados por uma vegetação cada vez mais abundante e em contínuo crescimento. A natureza adquirira o gosto pela continuidade de movimentos, enquanto a espécie humana, aquela que falava, ria e fazia sátiras de suas próprias mazelas, esquecera a sua vida cultural, ignorara as tecnologias, passara de ser culto a de analfabetos confessos, e os livros, se não serviam para acender as inumeráveis fogueiras espalhadas pelos cantos da Terra, serviam de recurso para que se limpassem após defecar. Na verdade a educação e a cultura tinham cedido vez à mão boba e a merda.
Era o início do Kaos. Do mundo escuro e entrevado. O homem voltava a ser das cavernas porque embotara o espírito de fora para dentro. E nesse recuar instintivo e defensivo ele não percebeu que criara uma reação canibalística. E começou, como o câncer, a devorar o que tinha de melhor. E a cada refeição deixava um rastro de coisas mortas e inúteis.
Ele não percebera que, ao idealizar o seu retroagir, criara a fórmula automática da sua própria destruição como ser vivo.
..... Essa narrativa terá continuidade. Que os meus dedos estejam no lugar quando isso acontecer.