sábado, 15 de agosto de 2009

Há tempo para calar

Depois de alguns dias em silêncio quase absoluto (eu apenas deixei de escrever um pouco), retorno à minha velha forma: escrever, assim como respirar e comer, andar e olhar ao redor, é um ato consequente. Apenas é preciso, vez ou outra, mudar os ares, os hábitos, dar uma volta no outro quarteirão, observar que há outras casas e cada uma delas com seus detalhes e particularidades. Notar que há um outro semáforo além daquele que tradicionalmente você observa e obedece. A sabedoria e a intuição dizem que você deve obedecê-lo, sob risco de não ter olhos para olhar o céu.
Sim, parece patético, mas é bem isso que acontece. Por mais atento que sejamos é sempre indispensável ficar ainda mais atento às loucuras do trânsito e suas máquinas mortíferas. O que é essa vida, não? Um par de sinais coloridos definem a sorte das pessoas, a vida ou a morte. Patético, deveras.
A melhor forma de andar nas ruas entulhadas de gente, de pontos de onibus, de pessoas distraídas que se chocam contra outras apenas porque estão desatentas, é fixar a atenção nos pés, concentrar-se neles, sentir o chão sob a planta do solado dos seus sapatos. Notar quão variável é a planura do chão, e notará que é desigual, irregular, cheio de armadilhas. Assim que sua atenção ficar concentrada você nem perceberá como as distâncias se tornam menores, o tempo diminui, você chega ao seu ponto de destino sem maiores problemas.
Diz-se que é um ato zen o de focar naquilo que se faz e não desviar a atenção para nada mais.
A mesma coisa imaginar um imenso lençol branco em um varal a esvoaçar suavemente ao ritmo de uma brisa em um dia claro e luminoso.
Eu estaria escrevendo tudo isso por alguma razão? Ah, sim, claro, estaria. Na verdade houve aquele tempo anterior em que me calei. O calar significou não escrever; não significa que tenha parado de pensar. Isso não! Não há como evitar os pensamentos. A disposição de sentar-se e colocar os pensamentos ordenadamente numa folha de papel é que não aconteceu, ainda que eles me invadissem como uma horda tártara.
Foi o meu jeito de mudar de quarteirão, de ver outro semáforo, de observar os detalhes e sinuosidades daquelas outras residências.
Agora eu retomo o meu caminho. As minhas reflexões. As minhas idéias e os ecos das coisas que ouço consciente e inconscientemente.
Agora chegou, novamente, o tempo de falar. Ou, melhor dizendo, de escrever. Até porque eu prefiro falar menos, e escrever é uma maneira muito particular de falar em emitir sons. Para o bem-estar e a saúde dos meus pares circundantes.

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