quarta-feira, 15 de julho de 2009

O QUE TENHO QUE SABER, AFINAL?

Não sei o que exatamente eu preciso e tenho que saber. A quantidade de informações diárias, que chega até mim por todos os meios de comunicação, é grande. Como diz o comercial que passa atualmente na TV, a informação envelhece depressa, o conhecimento é para sempre.
Então o que é que eu preciso realmente saber? Essa informação que eu recebo faz parte do pacote de conhecimento de que necessito?
Sinceramente, eu não sei responder. É um verdadeiro massacre. São imagens, sons e cores mescladas por notícias que me bombardeiam de todos os lados, como se fosse um bangue-bangue italiano. É a informação do tempo que fala sobre o calor, o frio, a umidade, a estiagem e as previsões de chuvas, temporais e ressacas.
De outro lado o que explode lá no mundo exterior, a bomba atômica que está sendo elaborada, o governo x, y e z que não se alinha aos interesses da ONU, os Estados Unidos que dizem e desdizem sobre tudo e sobre todos, o que o presidente Lula anda falando, dizendo e não ouvindo, sobre o Enem, sobre o tráfico que cresce, sobre tantas mortes que não sensibilizam, sobre os políticos que vivem se vestindo de atores shakespearianos, e nós o tempo todo com o nariz vermelho de palhaço na cara. Sobre o mercado de capitais, sobre a inflação, sobre a crise, o trânsito caótico, a falta de recursos na saúde pública, a Previdência que vive imprevidente... Ufa!
De que mais precisamos? Estatísticas? Desemprego? Aquecimento global? A gripe H1N1? Quem será o provável campeão mundial na próxima Copa? Quais as causas da queda e do desaparecimento do Airbus do vôo 447?
Somos solapados de todos os lados, e eu, que não sou exceção, acabo entrando nessa roda-viva. Ou capto e assimilo e me adéquo, ou sou engolido pela ignorância dos que sequer sabem o que comeram no jantar de ontem.
O exame vestibular testa sua capacidade de assimilar e decorar informações, mais do que conhecimentos práticos, para colocá-lo, de imediato, no Olimpo dos universitários que, segundo a lenda, farão a diferença. Para quem, eu não sei bem. Talvez para eles. Mas há tantos casos de arrependidos diplomados, que não chego a cogitar que essa diferença seja um meio legítimo, apenas como exemplo, para ajudar o país.
Eu não pertenço nem sou oriundo de elite alguma. Como homem, corri todos os riscos que um homem, do meu tempo, correu. Claro que as décadas sucederam-se e, por conseqüência, as gerações. Hoje são outras formas de pensamento. Pensam de forma mais seletiva, são mais práticos, e quem pode aproveitar as chances não fica para trás, engolindo poeira dos outros. Mas nem todos têm essa boquinha. Eu ainda sou do tempo em que pedir licença era regra; desculpar-se, dizer “por favor”, ou “obrigado”, nada mais que um aspecto padrão da educação. Como disse, sou homem de um outro tempo.
Isso não isenta o jovem de classe média alta de entrar pelos desvãos do vício e ser seduzido pela idéia de que a droga é a solução de problemas que ele, sinceramente, não tem. Ou se tem, são aqueles que nascem da pouca capacidade de se sensibilizar com os problemas daqueles que não tiveram a mesma sorte que ele.
Então quer dizer que ele acaba criando problemas para poder justificar o seu vício?
Não, claro que não. A estrutura mental dele não é tão óbvia assim. E ele não seria burro de entrar numa de horror. Mas que ele tem uma boa dose de idiotice entrando no vício, isso ele tem. Pode ser a bebida, outra forma de veiculo alienante. A má companhia ajuda muito. Induz. Sugere. Tenta. Busca seduzir. Convence. (Nem sempre a culpa é do diabo). E quando ele descobre que entrou num mato sem cachorro, bom, aí a coisa fica feia. Ele já se tornou proscrito, já roubou, já aliciou, já se violentou, já se pôs ao rés do chão.
Eu devo saber dessas coisas? Isso me ajuda de alguma maneira?
Pergunto, pergunto e não consigo responder. Olho ao redor e noto que as coisas continuam na mesmice de sempre. Todo mundo sabe que droga faz mal, mas o que se pode fazer é educar o quase-usuário. Qualquer pode ser usuário, mas somos todos quase - um se entendermos que o ritmo do cotidiano aí das ruas propicia toda sorte de oferta. Erradicar o traficante já se torna uma tarefa muitíssimo mais difícil. Envolve lei, polícia, política, gente que pode tomar posição, governo, toda sorte de autoridade, sistema educacional, etc, etc.
Mas então o que é que eu devo saber, afinal? Olhando o mundo em retrospectiva, todos os dias, quando abrimos os olhos, temos que admitir que somos vitoriosos, porque conseguimos sobreviver a um sem-fim de tentações e altos riscos, e estamos ainda ilesos.
Não significa que estar dentro de casa seja o lugar mais seguro. Se assim fosse não teríamos as histórias trágicas das balas perdidas e dos inválidos do crime.
Já não temos mais as antigas enciclopédias, onde buscava-se respostas às questões comezinhas do colégio, quando o colégio era uma instituição maravilhosamente poderosa – ainda que eu ignorasse a amplitude do seu poder.
Nem me lembro quem era presidente ou governador naquela época. Mas eu já estava a estudar sobre o homem metafísico. Ou sobre a Teoria da Evolução proposta por Darwin.
Sem querer o velho professor Ernesto Moreira, de saudosa memória, nos obrigava a fazer lição de casa durante as férias de meio de ano. Era quase o livro todo de Português, lendo textos e fazendo exercícios – com direito a transcrever em cadernos de brochura tudo isso, mais os significados das palavras, que caçávamos no Aurélio.
Que dureza! E ainda tínhamos que levar na data estabelecida os cadernos com todo o material feito ao colégio, e colocá-los em pilhas enormes naquela classe designada para tal.
Missão cumprida! Agora tínhamos um resquício de férias a gozar.
E ao voltar às aulas, para nossa surpresa, aquelas pilhas enormes de cadernos ainda estavam lá, irretocáveis, do mesmo jeitinho que tínhamos deixado um mês atrás.
A técnica do Ernestão deu certo. Só que eu, nem os meus antigos companheiros, sabíamos que ele, na sua suposta displicência como professor, tinha-nos inoculado com o micróbio do “aprenda-fazendo”, que é o que eu, humildemente, constatei no curso da minha própria vida. Se eu sei algumas coisas, e tenho alguma facilidade no manejo, dentro da língua portuguesa, confesso com humilde reconhecimento, muito devo a duas pessoas: à professa de Português no 1º ano de ginásio, Dona Eliete, e ao Ernestão.
Portanto, o que eu tenho que saber é aquilo que vou descobrindo após o tempo decorrido dos fatos. Enquanto marinheiros nessa viagem da vida, não entendemos muitas vezes a intenção do comandante do barco. Só quando, finalmente, barco e comandante estiverem distantes da nossa convivência diária é que descobrimos o que era preciso, de fato, aprender.
As lições de vida, as experiências, as palavras ditas, os conselhos, as reprimendas, as alterações graduais das vozes – dos sussurros aos gritos – e a simples presença deles, tudo isso responde à questão inicial: Não sei o que exatamente eu preciso e tenho que saber.
Aprendi. Talvez nem tudo que aprendi responda às dúvidas que a própria vida se encarrega de nos colocar no caminho, mas pelo menos existirão dentro de nossa lembrança, do nosso tesouro pessoal, da nossa memória preservada, as figuras importantes que deram sentido a essa dúvida retórica. Terá sido o pontapé inicial da aventura humana em que a educação, mais do que decoreba e capacidade de memorização, é o tijolinho fundamental que, mesmo escondido debaixo de toneladas de concreto, iniciou o alicerce do caráter, quando ter caráter era a coisa mais importante para aquele garoto meio boboca, ingênuo, que sempre acreditou que viajar na imaginação não era cheirar pó, mas simplesmente se enfiar dentro de um livro e navegar dentro dele até a última página.

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