sábado, 19 de março de 2011

Sempre é véspera de alguma coisa

Hoje, amanhã, depois de amanhã, não sei, qualquer dias desses no futuro, esse dia será véspera de algo, de alguma coisa que acontecerá por força deste ou daquele motivo. Como o que vemos hoje nos jornais, tragédias, mortes, a desvalorização gradual e sistemática da vida, a força do poder humano, as formas humanas (e claramente decadentes) dos regimes políticos, enfim, o homem - e a humanidade, por extensão - está a um passo de cometer uma insensatez da qual não tenha tempo de se arrepender.
Hoje, um sábado frio, úmido, outonal, começa uma nova fase climática e visceral do homem, da sociedade, das cidades, do país, e do mundo de modo geral. Aqui está assim. Lá, no outro continente, sabe-se lá que tipo de fato estará ocorrendo. Postei um video de uma música que fez parte da minha história, do garoto, do jovem, do adolescente, que viu ou quase percebeu a desgraça que foi a sequência de guerras por que passamos e que o mundo, como conhecemos, foi palco.
Especificamente o Vietnã foi o que mais marcou. Depois dele vieram os regimes mão-de-ferro na América Latina - da qual não escapamos - e Eve Of Destruction é uma síntese da batida compassada de uma melodia lenta, monótona e crescente a declamar um poema onde vísceras e esperanças se expõem lado a lado, porque ao que vê mortos resta esperar que ele, e outros como ele, sobrevivam.
Foram dias vesperais de outros dias que viriam e trariam outras formas de dores, mortes e esperanças.
Sempre é véspera de alguma coisa. Sempre será. Hoje, amanhã.
Só não podemos permitir que essa doença viral procrie e prospere em nossas entranhas, como um ser alienígena devorador. Não deixemos que o ódio nos consuma. Não deixemos que a perda de interesse pela vida nos conduza à morte anunciada e previsível. Não que ela seja uma abstração, ela é real, vívida, presente, e filosoficamente falando é uma continuidade modificada disto tudo que vivemos. Mas enquanto vivos nas atuais circunstâncias, há-que valorizar a vida, não permitir a impunidade ao que a arranca de nós, não permitir que ele (ou eles) se sinta distante e protegido na sua imunidade doentia.
Que hoje seja véspera de um amanhã esplendoroso, que os outros não sejam considerados diferentes, mas sejam apenas os outros, porque nós, aos seus olhos, também seremos outros. A cor, a etnia, a crença, seja qual for o pretexto que se crie para estabelecer discrepâncias e segregações, antes nos façamos conscientes para irmos diante do espelho e olhemos os nossos rostos, e pensemos bem o que vamos fazer. Pode ser que o que venhamos a fazer não tenha como ser corrigido depois, no minuto seguinte.
Terá sido, também, véspera de algo que pesaria amarga e dolorosamente em nossas consciências.

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