quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Ad Aeternum

Algumas vezes temos olhos para olhar. A boca, para falar. O céu nos cobre e as nuvens mudam de formato. Nem tudo, porém, percebemos. Não controlamos nada. A vida instala-se e deixa-nos na hora que quer e quando quer. Os nossos dias são tão ligeiros como o rosto do vento. Nunca veremos o mesmo pássaro duas vezes no mesmo lugar. E os Viadutos do Chá da vida sabem bem do que falo.

A mão tem dedos, e todos diferentes. As famílias têm filhos, parecidos e tão distantes. O cinema mostra o último desastre cinematográfico, feito de milhões de dólares. O rosto do galã é apenas uma máscara. A sua vida é um borralho. E as drogas trafegam pelas avenidas como damas noturnas distintas e respeitáveis, aliciantes e nervosas.

Ontem foi carnaval. Amanhã eu digo que fui. Hoje eu sabia que era amanhã. Agora já não é mais. Olho e não leio o Tao. O píncaro da igreja é um galo. Além da montanha azul reside o espaço negro da chuva de agosto. Enchemos nossas mentes de informações. Sonhamos com diagramas indecifráveis, como hieróglifos. O tormento do insone é não conseguir conciliar a vida e o silêncio da morte que deita ao lado.

Afagam-se, casais trêmulos. Nada, porém, é exatamente como é. Já não é mais. O rosto no espelho era. Agora tornou-se outro. Enfim, a vida é uma imensidão de rugas. A miopia apenas acelera o processo degenerativo. A mente vibra. O corpo, dormente, apenas respira.

Os livros amontoam-se nas bibliotecas desertas. Os prefeitos e vereadores andam na faixa exclusiva, o fiscal do CET olha passivo e finge que não vê. A placa denuncia. Além do Palácio há uma monte de favelas agrupadas. Os corpos esquálidos não são de Biafra. Vieram do Norte. Lá, bem lá, onde não há água. O homem continua dizendo que progredimos. Enriquecemos. Ficamos mais acessíveis.

O boi morreu de sede. Vidas Secas e Graciliano se cruzam no mistério da verdade que os homens esqueceram. Fabiano e a Baleia são figuras enigmáticas. O Brasil viaja nas ondas curtas e médias dos rádios entupidos de vozes ariscas, abobalhadas e de convesas inúteis. A notícia? Ela se renova todos os dias. As velhas remoçam. Fazem plástica. Voltam à juventude. São sempre notícias.

Aqui, dezenove horas. A Voz do Brasil silencia. É hora de deitar a cabeça, conciliar o sono, esquecer o Serasa, o banco, as financeiras. Amanhã, que será logo mais, tudo voltará a ser real.


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