terça-feira, 1 de junho de 2010

Questionamento

Quero apenas saber:
- Afinal, que é Deus para mim?
Na juventude desesperado eu clamei,
E em altos brados disse, como um ser frustrado e infeliz:
- Quero morrer!
Quem me ouvia era aquela que me deixou
E de quem não me despedi por falta de tempo.
O tempo que hoje escorre por entre meus dedos.
O mesmo tempo que me permite questionar os porquês.
Por que devo ficar pensando nisso, agora?
Mas afinal, o que é Deus para mim?
Ele me deixa solto, livre, apto para fazer tudo que eu queira.
Ele não diz que não devo.
Ele não me impede.
Ele não manda anjos ou exércitos cercear-me como fariam os tiranos.
Ele apenas me acompanha e tem paciência.
Toda paciência da Sua eternidade.
Minhas aflições ele acompanha.
Talvez fale-me ao ouvidos, que ouço do jeito que sei ouvir:
- durante meus sonhos.
Ele me fala. Talvez fale, não sei. Não posso garantir. Não tenho certeza.
Acho que pode fazer isso. Ou não.
Por que deveria fazer isso comigo? E os outros bilhões de seres?
Seria igual para eles também?
Já não tenho interesse em saber de onde vim, por que aqui estou,
Nem para onde irei.
Irei para o começo.
Aqui é apenas a continuidade.
Ontem foi hoje do passado que não me modifica mais.
Passado é passado e pronto!
Minha mãe ouviu-me, e onde estive, ainda deve ouvir-me.
As mães sempre ouvem. Não importa onde estejam.
Talvez ainda nos vejamos.
E meu pai também.
A mesma presença indefinida de uma noite passada,
Quando nos visitamos. Não sei o lugar. Não sei a hora. Nem o dia.
Apenas um lugar atemporal, sem rostos, sem detalhes, sem desperdício de vernáculo.
Morrer é como dormir.
Adormecidos ficamos prostrados e a morte é uma forma solene de silêncio.
Dar um passo além e ultrapassar o limite.
Que limite é esse? Não sei dizer ao certo onde começa.
Existe.
Está ali, aqui, acolá. Mais além. Além do além do além.
De repente como um espirro. Ou uma piscada de olhos.
Ou um suspiro de alivio.
Ou um passo após o outro.
Fulminantemente rápido, preciso, pontual.
Nenhum gesto teatralizado, nenhum sentimentalismo piegas,
Nenhuma representação fingida dos atores que mentem vivendo vidas alheias.
Morrer e morte são palavras.
O fato, em si, é apenas... acabou.
Como uma nova mensagem.
Ou uma nova história.
Um outro livro.
Ou aquelas figuras apagadas daquelas fotos esquecidas nas gavetas.
"Quem é este aqui?" alguém pergunta olhando a foto esmaecida.
"Seu bisavô" é a resposta.
Mas, que valor ou significado terá para quem ouve a resposta?
Absolutamente, nenhum.
Não se valoriza quem não conhecemos.

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