terça-feira, 1 de setembro de 2009

Esquecidos

Dura realidade aquela quando deixamos de ser lembrados! Literalmente se diz, com alegre desconcerto e jocosidade, que fomos esquecidos. Ah, dura realidade, dura vida! Mas quantos não são esquecidos, e nem por isso deixam de ser importantes.
Alguém lembra o primeiro beijo recebido na infância? Ou a primeira puxa de orelhas, quando se atreveu a baixar a cabeça para ver o que havia debaixo daquela saia (ou era um vestido?) que nem se sabe quem vestia?
O primeiro bicho de estimação, a primeira queda quando brincava... Essas coisas passaram e ninguém (ou quase ninguém) mais lembra, exceto aqueles seres iluminados com memória vertiginosa, mas que não lembram o que comeram ontem. Tudo é possível neste mundo de Deus.
A primeiro comunhão, as aulas de catecismo, aqueles catecismos proibidos que circulavam paralelamente, de mão em mão, provocando ufas e uaus intermitentes, naqueles tempos antiguissimos que a mera gravura desenhada supria as necessidades fisiológicas daquela geração de hábeis manipuladores. Alguém se lembra das caras e dos rubores?
Da primeira professora, enfezada e parcial - um prenúncio cruel do que seria o mundo adulto do futuro -, ou aquela de pernas torneadas e deliciosamente sugestivas, a alimentar as imaginações e a pôr em prática a criatividade da classe. Como se chamava ela mesmo? Nilza? Nilda? Neusa? Antipática, sim; mas muito gostosa, sim também.
Contudo tudo faz parte dessa coisa de "agora me deu um estalo e eu me lembrei" que circunda o nosso segundo mundo mental: o que vige e o que se aposentou. Ambos reunidos dão o tom e o colorido desta realidade em que muitos acabam esquecidos por pura questão de marketing.
Acho que ao terminar este texto eu me lembre que esqueci de algo que era imprescindível e fundamental. Porém eu terei a vantagem de dar uma continuidade fazendo acontecer o "Esquecidos 2" como se fosse um roteiro de um filme curto, mas essencial ao que lembra, pensa e escreve - no caso específico, eu mesmo.
Assim, vamos deixar que as lembranças aflorem como aves de arribação, que voltem às suas origens ou, que na melhor das hipóteses, retornem de onde vieram. Nisso reside a capacidade de ir e vir, viagens infindáveis, algumas boas, alegres, outras tristes, lamentáveis.

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