quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Atrevo-me a dizer que, de repente, saindo de um estado longevo de hibernação, sinto-me à semelhança de Lázaro a sair da tumba entre os panos da sua mortalha.

Há anos não me aproximava desta armadilha que é o ato de registrar o que se vai pela cabeça. Muitas ideias, muitas histórias, muitos relatos, muitos olhos a olhar direções diversas, o peito chega a enfunar-se de um vendaval que não cessa, contudo o navio não consegue ter força para avançar um milímetro que fosse.

Então, tomado de súbita disposição, comecei a cavoucar e-mails antigos. Coisas ditas e escritas há mais de seis, sete anos. Quase uma eternidade.

Eis que me deparo com um e-mail que Débora Val me respondeu, a relatar a sua dificuldade em escrever ou, melhor dizendo, a colocar  no papel o que lhe passava pela cabeça. Como se fosse fácil ser escritor, muita gente pensa que é assim, um passe de mágica, e tudo jorra feito uma cachoeira turbilhonante. Mas não é.

E ela dizia que escrevera em seu blogue um texto falando cujo título "Querer escrever ou as dificuldade da escrita" traça uma análise rápida, mas concisa, sobre o que se quer escrever, o que se escreve e o que fica (quase) acabado, depois que se escreveu.

Nem sempre convence. Nem sempre agrada. Muitas vezes (e são muitas), acabamos por destruir o que se escrevemos, porque não era aquilo que queríamos, de fato, dizer. 

Uma conversa solitária entre o que escreve, a caneta e o papel.

Ás vezes essa solidão se dá diante do monitor do notebook, do computador, quando se dá aquele travamento mental bem característico, sendo que, minutos antes, tudo fluía tão clara e facilmente pela nossa mente, que era um parto maduro e pronto para acontecer.

Possa a Débora Val ler-me, depois de um intervalo tão extenso, quero saudá-la pelo texto e contar com sua presença espiritual nessa arte dolorosa de expelir as coisas tantas que nos vão lá por dentro, nas entranhas, nos vales inóspitos de nossa ignorância de nós mesmos.

Este texto, hoje, não tem título. Não me vem à mente um nome; portanto, apenas adoto o texto como se fosse um pai de faz-de-conta, e me permito deixar que os dedos ajam, que minha mente engendre, que no final seja algo bom e a contento. 

Escrever pode parecer fácil, mas nos arranca pedaços substanciais. 

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