quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

São Paulo tem prefeito?

Sou um cidadão comum. Eles gostam de dizer munícipe quando se referem a nós. E falo como cidadão comum. Daqueles que andam de ônibus, tem dores de barriga, usam o SUS e pagam religiosamente os impostos, porque são impostos goela abaixo, sem choro nem vela.

Como cidadão comum também tenho opinião. Ocasionalmente palpito aqui e ali. Sou comum, mas não sou alienado. E ao observar um pouco a cidade que me cerca, ou quando paro e ouço as notícias que vêm pelo rádio, percebo certa lógica crítica nessas notícias. Ouço que os investimentos de subprefeituras foram cortados de umas e aumentados de outras. Você me perguntaria que lógica há nisso. A lógica simplista é que as verbas cortadas foram das subprefeituras dos bairros periféricos. Por outro lado, aumentou-se o investimento naqueles bairros, digamos, mais categorizados, onde eles, não por acaso, moram. Explica-se, portanto, os incontáveis buracos no asfalto arrebentado de onde moro, a iluminação tremeluzente de certas ruas, o estado deplorável de lixo acumulado nas calçadas, sem contar, é claro, a sujeira das ruas.

Grande parte dessa situação é culpa do próprio munícipe, é bom que se diga. O cidadão comum é comum também nos maus hábitos. Jogar lixo pela janela do carro, no meio-fio da calçada são procedimentos que denotam má educação. Cria-se a pessoa dando-se maus exemplos e depois não se pode exigir que essa criança, já adulta, tenha esses frissons de civilidade. Por osmose ela acaba agindo de forma reflexa àquele modo banal e deselegante que via dentro de sua casa.

Agora, cortes nas verbas dos bairros periféricos é bem o sintoma característico dos que gostam de maquiar a sua política. No caso de São Paulo o prefeito Kassab, que há muito está fora da mídia, deixou de ser centro das atenções bem depois que ele vetou o projeto que alterava os horários de jogos noturnos. Por questões políticas ou pressões econômicas (não se sabe ao certo qual o real motivo) ele vetou o projeto e a coisa não andou. Ou seja, continuamos a ter jogos que começam às dez da noite e acabam no começo da madrugada – quase ao apagar das luzes do metrô e dos últimos negreiros urbanos. O povo que se lixe! – diria o exemplar político à semelhança de certos políticos do reinado avassalador do Sr. Inácio Lula.

Explica-se as péssimas condições das ruas. Explica-se a ausência de fiscalização de transito somado ao absurdo em que se tornou o transito da cidade. Explica-se o desprezo pela educação formal desses maus condutores, porque a ênfase é arrecadar muito por meio das milhares de multas que são geradas pela indisciplina e a má educação. Quanto mais indisciplinado, melhor. Isso é bom para os cofres públicos, é bom para o governo municipal, mas é péssimo para o futuro da cidade.

Depois que a figura eflúvia do prefeito passou à condição de manifestação espectral, ficamos com a triste impressão que nunca o prefeito de Sampa será igual, vamos citar apenas um exemplo clássico, ao prefeito de Nova Iorque. Lá o prefeito é o chefe da polícia. Lá o prefeito determina e faz cumprir regras e leis. Aqui, se tanto, o prefeito hoje briga para tirar o presidente do partido a que ele pertence, por razões exclusivamente pessoais. O prefeito hoje existe para tentar sobreviver tendo algum futuro político. Não acredito, entretanto, que ele venha a se eleger a alguma coisa algum dia por essa mesma população. Diria mesmo que o prefeito foi um grande fiasco como administrador, um falastrão que vivia dando entrevistas em rádios de São Paulo, mas que depois da tibieza com que encarou o embate com conglomerados poderosos a defender o futebol às vinte e duas horas, o Sr. Prefeito deu um chá de sumiço e sumiu mesmo. De notícia só temos essa: obrigatoriedade da inspeção veicular sob risco de ter o licenciamento bloqueado mais uma multa de mais de quinhentos reais, ruas abandonadas, subprefeituras loteadas e sofrendo toda sorte de manipulação, e por trás dessa triste ópera trágica feita de ironias e inverdades, um patético homem que iludiu muita gente, inclusive eu mesmo, quando se propôs a se eleger para fazer da sua gestão um exemplo de boa administração.

Será que a Lei Seca ainda vigora? E aquela lei que pretendiam promulgar proibindo veículos a andarem com som de suas caixas poderosíssimas no último volume? Não só não aconteceu nada como agora o munícipe é obrigado a fazer inspeção veicular, pagar mais de cinquenta reais de taxa, sob a ameaça (sempre a ameaça) de não licenciar o veiculo e ainda ser multado.

Então eu pergunto: São Paulo tem prefeito?

Talvez o munícipe de outras plagas saiba mais daqui do que nós mesmos.

Infelizmente fica valendo aquele ditado que diz: “Em casa de ferreiro, o espeto é de pau”. Serviu feito uma luva.

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