quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Escrevendo.....

Continuando o papo de escrever, e depois de ter lido o blog de Debora Val - O Purgatório - onde ela redige as mesmas dúvidas e dificuldades que tratara na primeira parte desse texto, fica aquela pergunta: se é tão dificil, se é um parto tão doloroso, se escrever é quase a mesma coisa que escalar o Himalaia sem tubo de oxigênio, então por que é que nós teimamos e insistimos em escrever?

Na prática a resposta é tão absurda quanto a pergunta. Se algo me incomoda, eu evito. Se algo me enoja, eu passo ao largo. Se algo me aperta, eu me safo. Se algo quer me trazer algum desconforto, que pareça se prolongar, eu procuro me livrar dele. Então, essa coisa de ser "escritor" não é também um grande exercício de masoquismo?

Mas existe uma coisa que muitos não atentaram ao detalhe. Essa coisa de "preciso escrever" decorre do fato de que é algo que, dentro de nós, precisamos expelir. Como quando estamos indispostos. Como quando fomos imprevidentes e nos excedemos na mesa, na bebida, naquela farra não planejada. Vem o after. Sempre quando ele vem é que a porca torce o rabo. O efeito da ressaca é cruel. Mal-estar, indisposição, enjoo. Mas até chegarmos a esse estágio de lucidez, enfiamos as mãos pelos pés ou vice-versa e ignoramos o bom senso e a lógica.

Talvez seja isso o ato fecundo e absorvente de escrever. Traz dores, inquietações, desasossego, mas também produz um efeito inebriante de coisa feita. Eu sei bem o que é alinhar palavra por palavra, umas atrás das outras. Parecem formar um trenzinho infindável a apitar o seu apito irritante de "estou chegando". Chegar nesse ponto da estação da vida, contudo, é barra. Ou como diriam algumas pessoas: é punk.

A sensação de dever cumprido compensa toda loucura de véspera. Ler o que se escreveu e visualizar cada rosto, cada situação, cada diálogo ou até talvez aquele momento que ficou, como já me referi, congelado pela palavra, nada disso tem preço. Cada gota de suor, cada palavra estudada e lapidada, cada termo ou forma de expressão garimpada com esforço inusitado, tudo isso vale a pena depois que você enxerga o fato e ele está ali, presente, sólido feito um rochedo, um fato histórico, uma lembrança, uma ideia, um flash que não poderá ser alterado. O papel do escritor ou de quem escreve não é de validar o absoluto, mas de dar o seu testemunho e dizer que esteve presente, que vivenciou, que participou de alguma maneira, que deu sua parcela de colaboração.

Essa conversa fica comprida e parece não terminar nunca. Na verdade é como enxugar gelo: um trabalho cansativo que parece não sair do lugar. Só que a gente sai do lugar, da mesma forma que o gelo vai paulatinamente perdendo consistência, peso e volume. De um bloco tornar-se-á uma pedra. Uma pedra que parece inofensiva, mas foi uma pequena pedra que derrubou Golias.

Melhor não subestimar as pedras....

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